"Muito obrigada, senhor doutor, deus lhe dê muita saúde"
A um espírito sempre entre o crítico e o céptico, uma frase destas sugere muita coisa, ainda mais se a contextualizar nas urgências de um hospital. Primeiro agradecer fica sempre bem - não é porque o serviço é público, tendencialmente gratuito (?), e os outros estão lá para nos servir que temos o direito de ser mal-educados. Depois o "senhor doutor" cheira sempre a coisas de outro tempo já que hoje em dia o "senhor" "senhora" ou ainda mais "menina" caiu definitivamente em desuso (provocativamente lembrei-me do acordo ortográfico e do sugestivo vocábulo brasileiro sinhá). Em terceiro lugar, isto de deus e medicina a mim parece-me que não joga mas da maneira que as coisas vão, ter saúde só mesmo por milagre. Por fim os vários trocadilhos com a saúde: deus lhe dê saúde para não precisar de ser tratado, deus lhe dê saúde para continuar a curar, deus lhe dê saúde porque vai precisar ou então - um pouco de dark humour - deus lhe dê muita (trapalhada do ministério da) saúde já que eu não posso dar-lhe o que merece.
Agora sem brincadeira, ficou-me o eco desta frase desde a semana passada. Não vi a doente nem o médico, mas o tom indica o que verdadeiramente era, ou seja, um agradecimento sentido de alguém à pessoa que a atendeu e tratou bem. Soou-me a João Semana, a Retalhos da Vida de um Médico, a algo de bom deste Portugal antigo de gente que sabe agradecer e abençoar.
A vós, deus (tenha o nome que tiver) ou o acaso vos dê muita saúde (da boa, da competente, rápida e barata de preferência) e médicos com mais amor à profissão do que ao euro.