quinta-feira, 24 de março de 2011

Um solitário vestindo Armani


Não me interpretem mal, eu não estou a falar dos anúncios Armani nem dos modelos na página oficial que me fizeram apetecer clicar no link "wishlist" e encomendar os próprios, com ou sem a roupa.

Não não não, é pena.

Falo do outro que não quero ver nem vestido nem pintado e Deus me livre de o ver despido!

Esse, esse em quem estão a pensar... o que não usa nome de família, o que veste italiano mas bajula alemão, o que tem tiques de ditador africano, é amigo do Kadafi e faz birrinhas, o "já foste"!(É sempre melhor ir vestindo Armani do que alguma cadeia espanhola com roupa made in Bangladesh!)

Agora voltando ao título, solitário está o homem cada vez mais (quem quer ser visto em má companhia?) embora alguns continuem a seguir a ovelha-chefe, ansiosos por ajudar a vestir a pele do lobo. E, convenhamos, temos pena de, em vez de o ver solitário, não o ver na solitária!

Já quanto ao vestir Armani, isso vem já do tempo em que era ministro. Ora, ainda que não tenha clicado na wishlist, que nunca ia passar de wish mesmo (com o meu salário comprava o saquinho de papel e olha lá!), eu bem sei quanto custa o-que-quer -que-seja com a etiqueta Armani, a não ser que seja comprado numa feira, fora das vistas da ASAE!

Assim, pensemos juntos, não provindo de uma das famosas abastadas famílias que há gerações (des)governam este país, com um salário de "engenheiro" na Covilhã e depois membro subalterno do governo, donde raio lhe vinha o pastel para as roupinhas Armani? Será que havia lojas Armani no Freeport com direito a cartão de descontos para cliente habitual? Não sei, estou a imaginar...Ou será que havia Armani a crédito com juros a vencer em dois-mil-e-qualquer-coisa, ou cursos da universidade independente em "como-aprender-a-vestir-Armani-numa-só-sessão-ao-domingo"?

Se alguém souber, avise, preciso desesperadamente de saber como se pode vestir haute couture com um vulgar salário de Portugal...

quinta-feira, 17 de março de 2011

O país do sol nascente


O Japão. Devo confessar que nunca me interessei muito pelo Japão. Fica lá do outro lado do mundo, vive da tecnologia, automatizado, "certinho": aborrecido. Aprecio a qualidade dos carros (embora prefira os alemães e suecos) e das Nikon e da Fuji e mais umas coisas do mundo tecnológico. De resto, um país rico que não me interessa.

Daí que não sei grande coisa sobre o Japão, tirando a capital e as bombas atómicas de Hiroshima e Nagazaki e os problemas de sucessão do imperador por uma menina (num país de topo em tecnologia, parece-me um total absurdo).

Primeiro o terramoto - ok, eles têm edifícios preparados para isso, no worries. A seguir o tsunami - aí já foi pior, mesmo com os alertas, acabou por se descobrir que o número de mortos era horrorosamente grande para um país tão evoluído. Por fim a ameaça nuclear - ah, não há crise eles têm lá a tecnologia toda, resolvem o problema.

Aí é que nos enganámos todos. Confiámos que o Japão, país de primeiríssimo mundo, organizado ao máximo, conseguisse resolver tudo. Mas não conseguem. Não conseguem prestar apoio aos desalojados como deve ser, não conseguem arrefecer os reactores e provavelmente não vão conseguir evitar um desastre nuclear de dimensões incalculáveis!

Bolas, afinal a tecnologia não resolve!

Bolas, um país que há sessenta e tal anos sofreu na pele o desastre nuclear devia estar melhor preparado!

Bolas, isto de ser rico não protege ninguém da natureza nem dos desastres!

Bolas, porque o Japão é rico, as pessoas não se sentem sensibilizadas, é difícil ter pena daquela gente!

Bolas, a riqueza e a tecnologia desumanizam!

Bolas, não gosto do Japão!

sábado, 12 de março de 2011

Portugal na Rua


Não é Abril, nem sequer primavera ainda...
Mas o povo voltou a sair à rua. Cada um pelas suas razões, alguns pelo passado, alguns pelo presente, todos pelo futuro. Os jovens, os pais, os avós, as crianças cujos pais não podem garantir-lhes um futuro.
Há gente de direita, de esquerda, de lado nenhum. Há gente das artes, da música, da educação, da política, do desemprego, do desespero. Há gente, gente, gente, POVO! O POVO!
Lembro-me das manifs a que fui, da emoção de subir a avenida, olhar para trás e ver gente, gente a perder de vista e a fraternidade, a união, os sorrisos, a voz do coração.
Canta-se o hino - a manifestação é por PORTUGAL, porque Portugal somos todos nós. E não só os Portugueses, mas os que amam e constroem Portugal.
Ah, como queria estar lá!!!!! Talvez ter ido me espantasse esta ansiedade e esta melancolia de ter medo do futuro, não do meu, mas deste país, dos meus amigos, dos meus alunos, dos meus sobrinhos, dos filhos que não terei.
Mas o povo saiu à rua. O povo não se cala e o povo há-de vencer de alguma forma.
Ao fim e ao cabo, estamos todos lá.
MEU POVO, ESTAMOS UNIDOS!

segunda-feira, 7 de março de 2011

Pedras Parideiras


Diz a lenda que na Serra da Freita há pedras que dão à luz outras pedras. O povo chamou a essas rochas mágicas, pedras parideiras. Uma amiga geóloga explicou-me que essa magia se deve ao comum fenómeno da erosão. As pequenas pedras já lá estavam, apenas o efeito dos elementos as liberta.

A muitos quilómetros de distância, foram, na semana passada, as técnicas da assistência social retirar duas crianças a uma mãe. Uma em idade pré-escolar, e outra um bébé de meses. Face ao inevitável, a mãe lamentou-se:

- Como é que eu vou viver agora? O que será de mim?

Ah, imaginamos, como se vive sem os filhos. A dor, a perda, a impotência. Um coração partido. Porque nós não somos pedras.

Continuava a mulher:

- O que há-de ser de mim , agora SEM OS 250 EUROS DO ABONO?

Ah, agora a nossa incredulidade, a nossa dor, a nossa revolta...

Quanto a pedras parideiras, eu fico-me pelas da lenda.