sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Manual do protesto - tomo I

Eu estou aqui hoje para vos falar de [Grandolaaaaaa, vila morêênaaaaaa...]
Isso mesmo, da Grândola, aquela que um ministro decepou indecentemente e que anda a ouvir-se a cada esquina, de Lisboa até Madrid! (raio dos espanhois sempre a apropriarem-se do que é "ibérico"!).
Ora a dita, tal como qualquer outra, estranha-se, depois entranha-se e depois enjoa-se. Assim, do meu mini-pedestal de revolucionária de teclado, lanço os primeiros kb do manual do protesto, tomo I.
Ponto um - Está na hora de arranjar alternativas à Grândola. Sim, porque eu sou das poucas pessoas que gostava dos "Jardins Proibidos" do Paulo Gonzo antes do grande público descobrir, adorar, ouvir até à exaustão e, consequentemente, enjoar os "Jardins Proibidos", portanto sei do que falo. Assim, proponho outras canções do mesmo calibre, embora talvez não do mesmo peso, como "E depois do adeus", "Índios da meia praia", "a tourada", "Uma gaivota voava, voava/ asas de vento, coração de mar...", ... É só ir ao top+ do lápis azul das canções.
Ponto dois - Gritar "ga-tu-nos! ga-tu-nos" sempre a seguir à Grândola, também já não tem impacto, está toda a gente à espera. Em alternativa, substitua-se por sinónimos (ou antónimos para a ironia). "Car-jac-kers, Bur-lõ-ões" (ge-ne-ro-sos, a-mi-gõ-ões).
Ponto três - Convêm mudar as caras, as roupas e os cartazes/ bandeiras. A esta hora qualquer segurança recrutado na Cova da Moura já viu mais vezes as imagens dos manifestantes, do que os senhores de "o dia seguinte" viram os penalties contra e a favor do Benfica, e correm todos o risco de alguém vos encomendar uma carga de porrada das antigas.
Ponto quatro - Para animar a malta, levem uma versão karaoke para os elementos do painel, palestra ou sessão de abertura cantarem todos a mesma letra.
Ponto cinco - Continua no tomo II.

[Senhores organizadores de eventos - não digam que fui eu que vos dei a ideia - mas, para evitar atrasos e constrangimentos desnecessários, sugiro o seguinte esquema de programa:
espécime:
9:00 sessão de abertura com a presença do sr. Dr. xxxxx, ministro de yyyyy
9:05 "Grândola Vila Morena", pelo grupo de cante alentejano zzzzzzz
9:09  momento de descontração com exercícios de projeção de voz usando palavras de ordem
9:12 encerramento da sessão.]

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Eu gosto é do verão...

Adoro o verão, o sol, o calor, desde que não esteja a trabalhar, desde que não esteja um monte de moscas a chatear-me, desde que não estejam mais de 35.ºC, desde que haja sombra e água fresca, de preferência salgada.
Eu gosto do cheiro da pele ao sol, do cheiro da mata, do cheiro a sal, do cheiro do ar quente ao anoitecer...Gosto de acordar para um sol branco que não deixa abrir bem os olhos e de ter tempo. Gosto das roupas leves e coloridas e dos chapéus e das sandálias que deixam os meus dedos felizes. Gosto profundamente de me deitar na cama fresca com lençóis lavados depois de uma tarde na praia, um jantar leve, um banho morno com aquela sensação de cansaço bom.
E quando é inverno e penso no verão até gosto do meu protetor solar que me deixa com cara de gueisha de olhos azuis e de transpirar.
Portanto, venha de lá o verão e depressa, se faz favor!

Cocoon

Já há muito tempo que ando para escrever sobre isto. É um momento, aquele momento especial. Não é quando o mundo para de girar ou vemos estrelas ou perdemos o chão. Não. É aquele momento simples em que batemos a porta do nosso carro e somos absorvidos pelo silêncio interior, a tranquilidade e expiramos lentamente. O corpo ajusta-se ao banco, a mente expande-se, os músculos descontraem e somos nós no nosso cocoon (eu sei que é casulo em português mas o momento lembra-me sempre o filme) profundamente individuais e protegidos do mundo que passa lá fora. É muito mais do que o gostar da máquina, é um sentimento embrionário que não deixa de me maravilhar sempre que acontece.
Obrigada meu pequeno cocoon branco com rodas.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Dias do avesso

Sabem aqueles dias em que acordamos do avesso, o tempo não está bom, está frio, o cabelo está do pior, não conseguimos atinar com a roupa para vestir e na rádio está um ministro qualquer a dar más notícias (para nós, não para ele!)?
Era num desses dias que eu queria dar de caras com um tipo qualquer que me pedisse uma fatura. Eu fazia a vontadinha ao mau humor, acertava-lhe com um gancho de esquerda e ganhava comidinha e roupa lavada numa cela especial para licenciados!
;p

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Sorteio Envenenado

Ouvi ontem nas notícias e nem queria acreditar: a autoridade tributária, ou seja, o fisco, vai sortear casas, carros ou eletrodomésticos pelas pessoas que mais faturas pedirem! Grande ideia!!!
1. Quem mais faturas pode pedir é quem mais dinheiro tem para gastar, logo, não vai lá pelo prémio.
2. Quem anda no mundo pelo prémio, joga no Euromilhões (o que é duplamente fofinho porque ajuda a Santa Casa e, se ganhar, paga 1/4 ao fisco)
3. O único beneficiado com isso vai ser... o próprio fisco!
 
Ou seja, pegam nas casas, nos carros e nos eletrodomésticos que penhoraram a umas pessoas para os sortearem entre outras (em troca de estas se certificarem de que o estado recebe os 23% de cada cêntimo que gastam), e, se os prémios forem de valor superior a 5000 euros ainda têm o tal imposto de 1/4!!!! Somando a isto tudo, se ganharem uma casa ficam com a cruz do IMI e sabe-se lá mais o quê e se ganharem o carro, o imposto de circulação. É o ovo de colombo! O único que não gasta nada e só recebe é o Sr. Fisco-chico-esperto. A verdadeira bolha da fatura!!!!
É nestes dias em que eu acredito que há Pai Natal!!!!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Agro reality

Neste país deve haver mesmo falta do que discutir. Se não, veja-se o dramalhão que se fez à volta da sugestão do regresso de um programa sobre agricultura à RTP na assembleia da república. É que os digníssimos deputados não se entendem: ora acham que a RTP é um bem público inalienável e, portanto, sob o domínio do governo, ora se abespinham porque o governo quer encomendar programas à RTP onde, supostamente, deve ser o patrão. Agora que penso nisso, talvez seja útil obrigar os deputados a gravar as emissões da ARTV para poderem manter alguma coerência nos argumentos, porque há uma linha que separa o debate político do bate-boca e do bota-abaixo.


Quanto ao programa dedicado à agricultura, parece-me bem. Nas minhas queridas memórias de infância espreita sempre o engenheiro Sousa “Viçoso”, não me lembro bem se antes ou depois do Nils Olgerson, o menino que voava com os gansos. Sim, onde mais teria eu aprendido o que é o sorgo ou a importância do montado de sobro? É que no farmville há bagas goji mas não há sorgo, há cerejeiras cor-de-rosa mas não há sobreiros. Um programa de televisão sobre agricultura (já que estou a meter a colherada, que seja biológica e sustentável) impõe-se! Estou de acordo! (desde que não seja o Baião a apresenta-lo, claro)! [já agora, não acham que esta minha forma de enfiar os meus pensamentos com minúsculas, entre parênteses e sem pontuação no final me põe na fila para nobel da literatura? ]

Mas se é para levar a sério a valorização da agricultura, tenho uma ideia mais popular! (popular MESMO) Para ter uma audiência de rebentar com tudo, era um programa numa aldeia com agricultores em que cada um tinha um segredo agropecuário, cultivava a respetiva parcela de terreno e quem fosse mais bem-sucedido, ganhava! E para animar, de vez em quando, enrolavam-se no meio da vinha ou na plantação de sorgo não geneticamente modificado destinado à forragem ou no sótão da vacaria e eram apanhados pelas camaras ocultas. E tinha que haver um engenheiro que desse instruções, mesmo que nunca aparecesse (assim tipo Manzarra, mas à séria).

Eu, só com estas ideiazitas, já devo ter equivalência a ministra da televisão. (não, não, pensando bem! ganha-se muito melhor como diretora da RTP, dá menos chatice e para ajudar na restruturação fazia eu a voz-off do programa).

Agora fica o aviso, eu, estando no pleno uso das minhas faculdades mentais, declaro que estas minhas ideias originais estão sujeitas a direitos de autora e só podem ser usadas com a minha autorização sob pena de ação judicial. (ah, pois ou achavam que era vir ao meu blogue tirar ideias e fazer um brilharete no hemiciclo?)

Despeço-me com amizade e até ao próximo post.



:D (o que eu gostava de poder por aqui um emoticon que eu tinha no msn que era um bonequinho que rebolava a rir e batia com a mão no chão!)

[agora que reli isto tudo, sei que parece que estou sob o efeito de um cogumelo silvestre qualquer mas, na verdade, estou muito lúcida, mesmo que estas politiquices quase me ponham doida]

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A faturar

Portugal anda mesmo a faturar à força toda. Não é gíria futebolística, nem eufemismo para ganhar dinheiro. É mesmo literal: faturar de passar fatura.
Hoje na feira era a loucura: faturas de um par de meias a 1 euro ou de dois botões a dez cêntimos cada ou de um carrinho de linhas a 25 centimos, ou de 60 cm de fita a 40 cêntimos o metro!!! Os pobres feirantes nem devem ter ganho para os livrinhos das faturas simplificadas, que de simplificadas não têm nada porque continuam a ter 3 ou 4 vias, e um livrinho vai-se num instante à medida que saem os boxers, os chinelos e os rolinhos de elástico. E para faturar a fatura não faltavam os polícias, fiscais e sabe-se lá quem mais, não fosse algum cliente teimoso recusar o raio do papel só para não ter a dor de alma de pensar nas árvores que se desperdiçam.
A faturar a faturar a feira nem parece a feira - vale lá a pena apregoar, fazer descontos ou regatear só para depois faturar! Nem dá para a "atençãozinha" que essa vai-se para a autoridade aduaneira e a imprensa nacional.
É certo que quem pode, foge ao fisco. Mas eu que sou eu e não mando nada, gostava que os senhores dos BPNs e outros do género passassem a fatura do dinheiro dos meus impostos que meteram descaradamente ao bolso e ma mandassem, se faz favor. Sim?

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Nua e crua


Nua e crua, (curta e grossa é mais rude e tem ar de pezinho a puxar para a lama), assim é a justiça- ou a falta dela.

Ontem vi na RTP uma reportagem sobre mulheres a quem retiraram os filhos. Tinha pensado não a ver, porque a minha costela sentimentalona ia dar de si e isso não é bom para a estabilidade emocional de ninguém. Mas, sem eu dar conta, fiquei presa à imagem de mãozinhas e pezinhos de criança e cabelos entrançados com missangas coloridas. A costela lá começou a tinir e a piscar (ou qualquer coisa que uma costela possa fazer) porque há mães que entram na maternidade e saem sozinhas e bebés que nunca tiveram um colo de mãe, porque os polícias levaram de uma assentada sete filhos de uma casa, porque as comissões de proteção de menores perseguem as mães... Há pois muito amor de mãe ferido por aí, e muito amor de mãe por entregar também.

Mas depois pensei no que seria do filho da mãe alternadeira (que conscienciosamente durante a gravidez voltou costas ao alterne para passar a arrumar carros e pedir na rua) se tivesse saído da maternidade, para onde? Para a rua, o parque de estacionamento, as traseiras de um bar, uma trouxa numa barraca à espera que a noite terminasse? Chegaria o amor de mãe e a vontade de lhe dar um "lar estável" para corrigir o passado torto e o futuro mais do que incerto?

Aí lembrei-me da velha máxima da justiça: vale mais deixar um criminoso em liberdade do que por um inocente na prisão. (E como neste país se fazem as duas coisas com tanta equidade!!!!) E fiz uma máxima nova que diz que mais vale uma criança institucionalizada por engano do que uma abandonada à miséria física e social.

Pronto, nua e crua, aí está. Essa é a justiça.

PS: Também não quero saber se me criticarem e fizerem um abaixo assinado como o que fizeram para poupar ao abate um cão que matou uma criança. Porque digam o que disserem, nada, NADA vale mais do que a vida digna e segura de uma criança nem que para isso tenham que sofrer mil mães. Porque ser mãe é como a história do Rei Salomão - é saber sofrer e perder para poupar um filho. Nua e crua, também eu, seria a própria justiça.