Ontem, à hora do jantar, o meu marido ligou a televisão e disse "Olha, são as imagens do avião". Avião? Qual avião? Mais um que perdeu peças... "O da Malaysia Airlines" Ah, o do mar. "Não, o que caiu na Ucrânia." Outro? Bolas! E morreu alguém? (Pergunta mais parva, quando cai um avião morre sempre alguém) "295 pessoas. " !!!!!! :o
... segundo os Estados Unidos, o avião foi abatido por um míssil terra-ar... Continua um jornalista.
Estou pasma. Passa-se um dia sem ver notícias e acontece isto. Na Ucrânia. Um avião abatido. Não um avião militar, não um avião espião, mas uma avião civil cheio de europeus, australianos e pessoas de outros países civilizados, que iam para umas férias civilizadas numa cidade civilizada chamada Kuala Lumpur, que foi abatido sobre um país europeu civilizado, a Ucrânia, não se sabe bem por quem.
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Crash site
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Enquanto foi o Iraque, a Síria, Gaza e Israel, eram as guerras dos outros, dos Árabes, do médio Oriente, quase como se fosse noutro planeta, os venusianos contra os marcianos ou os vulcanianos contra os plutonianos. Mas a Ucrânia é mesmo ali ao virar da nossa esquina. Já não há muro de Berlim. A cortina de ferro foi-se. Os holandeses e os britânicos são nossos compatriotas europeus abatidos sobre a Europa numa guerra que não era a deles - ou será que era? Mais do que matar criancinhas inocentes, indefesas e inofensivas em Gaza, atacar um avião civil cheio de europeus revolve-nos o estômago. Subitamente já não é uma guerra dos outros. Subitamente podíamos ser nós a voar para umas férias de sonho. (Já agora lembrem-me de nunca voar com a Malaysia Airlines: aqueles aviões têm um azar do caraças!)
Eu, que penso sempre tanto, não sei bem o que pensar nem o que escrever. Mas tenho aqui na garganta um estranho nó que não tem nome e uma convicção de que todas as guerras são nossas, mesmo as guerras dos outros...
http://www.bbc.com/news/world-europe-28359345