Entrei na onda, vou falar da maçonaria. Estive na
quinta-feira a ver uma entrevista a dois ex-grão-mestres do GOL. Para já gosto do nome, Grande Oriente Lusitano, é assim uma coisa com cheiro a descobrimentos, sabor a cravinho e canela, aparência etérea do reino de Preste João. Grandeur e saudosismo de bom-gosto acompanhado com chá em serviço da companhia das Índias.
Depois descobri que ser maçon é uma distinção, uma honra, uma coisa espiritual e achei bem, este mundo materialista precisa de mais espírito e valores. Também é ser democrata e defender a liberdade, igualdade e fraternidade. Também é fazer caridade sem publicidade. Também é ser moderno e não excluir as mulheres. Também está tudo escarrapachado na internet e o resto é preconceito e ignorância.
Foi aí que decidi - quero ser maçonne (se o feminino não for assim, devo avisar que só estudei francês 3 anos há - credo! - vinte anos atrás!). Ora, assim sendo eu, querendo ser maçonne, entro numa loja, pago a inscrição, dão-me o recibo, pagam o IVA, assino um contrato e fico maçonne!Não, aí começam os problemas.
1. É uma loja mas aparentemente não vende nada, logo não paga IVA, logo é um estabelecimento comercial que foge ao fisco.
2. Não se chega lá por inscrição, só por convite ou recomendação, o que me parece do mais democrático que há.
3. Não há recibo nem factura nem cartão de sócio porque não se pode divulgar as identidades dos membros.
4. Maçonnes e maçons só se misturam em ocasiões especiais e por convite o que me parece uma tendência muito contemporânea.
5. Respeita todas as liberdades mas como não entra quem quer, é normal que “recrutem” principalmente entre as elites, ou seja, mais igualitário não há, (e eu, já que isto de ser prof é do mais anti-elite que há, estou fora!)
6. São contra a corrupção e o nepotismo mas devem sempre ajudar e patrocinar os projectos de um irmão (o que num tribunal podia ser considerado tráfico de influências, e na sociedade não elitista chamado de factor C)
7. Está tudo na internet menos os rituais que são secretos, os nomes dos membros que são secretos, as reuniões que são secretas, o livro negro que é secreto e mais sei lá quantas coisas perfeitamente transparentes que também são secretas.
8. É tudo baseado nas questões filosóficas e na liberdade total de opinião e credo mas parece que há maçons em tudo quanto é área de poder (com certeza para reflectir filosoficamente e fomentar os valores não necessariamente humanistas)
9. Os maçons têm tido grande influência na democracia e na sociedade (pelo que se vê, estamos bem arranjados)
10. Tudo muito claro e nitidamente justificado pela tradição e as circunstâncias históricas da fundação das lojas maçónicas.
quinta-feira a ver uma entrevista a dois ex-grão-mestres do GOL. Para já gosto do nome, Grande Oriente Lusitano, é assim uma coisa com cheiro a descobrimentos, sabor a cravinho e canela, aparência etérea do reino de Preste João. Grandeur e saudosismo de bom-gosto acompanhado com chá em serviço da companhia das Índias.
Depois descobri que ser maçon é uma distinção, uma honra, uma coisa espiritual e achei bem, este mundo materialista precisa de mais espírito e valores. Também é ser democrata e defender a liberdade, igualdade e fraternidade. Também é fazer caridade sem publicidade. Também é ser moderno e não excluir as mulheres. Também está tudo escarrapachado na internet e o resto é preconceito e ignorância.
Foi aí que decidi - quero ser maçonne (se o feminino não for assim, devo avisar que só estudei francês 3 anos há - credo! - vinte anos atrás!). Ora, assim sendo eu, querendo ser maçonne, entro numa loja, pago a inscrição, dão-me o recibo, pagam o IVA, assino um contrato e fico maçonne!Não, aí começam os problemas.
1. É uma loja mas aparentemente não vende nada, logo não paga IVA, logo é um estabelecimento comercial que foge ao fisco.
2. Não se chega lá por inscrição, só por convite ou recomendação, o que me parece do mais democrático que há.
3. Não há recibo nem factura nem cartão de sócio porque não se pode divulgar as identidades dos membros.
4. Maçonnes e maçons só se misturam em ocasiões especiais e por convite o que me parece uma tendência muito contemporânea.
5. Respeita todas as liberdades mas como não entra quem quer, é normal que “recrutem” principalmente entre as elites, ou seja, mais igualitário não há, (e eu, já que isto de ser prof é do mais anti-elite que há, estou fora!)
6. São contra a corrupção e o nepotismo mas devem sempre ajudar e patrocinar os projectos de um irmão (o que num tribunal podia ser considerado tráfico de influências, e na sociedade não elitista chamado de factor C)
7. Está tudo na internet menos os rituais que são secretos, os nomes dos membros que são secretos, as reuniões que são secretas, o livro negro que é secreto e mais sei lá quantas coisas perfeitamente transparentes que também são secretas.
8. É tudo baseado nas questões filosóficas e na liberdade total de opinião e credo mas parece que há maçons em tudo quanto é área de poder (com certeza para reflectir filosoficamente e fomentar os valores não necessariamente humanistas)
9. Os maçons têm tido grande influência na democracia e na sociedade (pelo que se vê, estamos bem arranjados)
10. Tudo muito claro e nitidamente justificado pela tradição e as circunstâncias históricas da fundação das lojas maçónicas.
Ora bolas! Primeiro, não posso ser maçonne e segundo não quero! Os dois senhores ex-grão mestres falaram falaram falaram e não disseram nada, deixaram mais dúvidas que explicações o que contribui imenso para acabar com o clima de suspeição. É o que dá lidar com as elites. Nunca vão entender que para os tugas basta falar em associação secreta, rituais secretos e membros secretos é o mesmo que dizer que só podem ter muitos podres para esconder. Os tugas também percebem bem o que é isso de convidar membros e ajudar os irmãos já que é assim que funciona qualquer aldeia deste país numa perspectiva muito filosófica de que uma mão lava a outra. Os tugas lá a muito custo acabam por conseguir perceber que bem vistas as coisas, década após década, os cordelinhos são sempre mexidos por gente com sobrenomes muito semelhantes e combinados e as elites só são elites porque se preservam fechando-se em torno de si próprias e estabelecendo critérios de selecção que, naturalmente, excluem os outros.
Agora, surpresa!, tenho a informar que há muitos tugas que, sem pertencerem à elites e sem convite ou filosofia, conseguem ser maçons! Mas esses são os que há décadas fogem do Portugal governado pelas elites políticas sociais e económicas, emigram para França e tornam-se logo maçons numa obra qualquer.
E já que hoje é sexta-feira treze que, ao contrário de alguns disparates que ouvi hoje, tem origem no ataque em massa aos templários em França – curiosamente uma ordem de elite e cheia de rituais secretos – e a prisão do seu grão-mestre - onde é que eu já ouvi isto? - pergunto-me quanto de tudo isto não tem por trás uma guerrinha política ou económica em que interessa arranjar um bode expiatório qualquer, ou um candidato a irmão ressabiado pela recusa, ou algum interesse secreto daqueles que nem podemos imaginar ou imaginamos demais.
Vendo bem, a França está metida nisto tudo… e hoje caiu nos ratings. Sim, porque isto anda tudo ligado, como dizia o meu afilhado quando tinha que estudar história! Cá p’ra mim, o Sarkozi também é maçon e está a ser afectado pelas ondas de choque do escândalo das relações secretas entre os serviços secretos e uma loja maçónica secreta que deixaram de ser segredo em Portugal que tem uma vasta população de maçons em França!
Concluindo, uma amiga minha diz que a palavra maçon lhe lembra sempre massa, algo entre tagliatelle e farfale mas tudo feito da mesma massa. A meu ver, mais do que uma massada, é assim um prato gourmet com um nomezinho francês que podia servir o paladar de qualquer um mas que, devido ao cozinheiro de elite e aos ingredientes secretos, não está ao alcance de qualquer um a não ser que alguém convide e, naturalmente, pague a conta.
Fica à consciência de cada um...
Que grande texto, e aí está uma coisa sobre a qual eu não conseguiria escrever e mesmo se o conseguisse não o conseguiria fazer melhor. Entendimento, inteligência, um humor dos diabos - maçonne? hilariante! :)- , excelente escrita. Foi dos textos que mais gostei! Parabéns, Sara!
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